Quem é você quando ninguém está te olhando?
- Fabio Gossi
- 21 de jul.
- 4 min de leitura

Tem dias que parece que a vida virou um grande pitch. Um pitch de si mesmo. A gente entra na reunião já pensando no que vai postar depois.
Sorri com filtro, escuta com legenda e compartilha aprendizados em tempo real. É o jeito atual de viver: como se estivéssemos sempre sendo avaliados — por um público que nem sempre está lá.
No dia a dia
A identidade como um feed🧩Você acorda. Abre o WhatsApp, depois o Instagram, talvez o LinkedIn. A primeira pergunta do dia não é “como eu estou?”, mas sim “o que eu tenho pra mostrar hoje?”.
Até o silêncio virou oportunidade de conteúdo. “Gente, sumi mas tô viva! Aprendendo muito nesse processo aqui.”
A curadoria de si é isso: uma edição constante, onde não basta sentir — é preciso ter uma legenda boa pra acompanhar.
Soft skill: consciência de contexto
Saber como se apresentar em diferentes ambientes é uma habilidade essencial. Mas quando o esforço para parecer interessante supera o espaço para simplesmente ser, o cansaço bate — e ninguém posta essa parte.
A função da curadoria 🧠
Curar é escolher. E escolher é abrir mão. A curadoria de si permite que a gente destaque o que quer mostrar ao mundo, sim — mas também pode ser um jeito de entender o que importa de verdade.
Quando usada com consciência, ela organiza a bagunça interna. Quando usada no piloto automático, ela vira um filtro que separa a gente da própria experiência.
Soft skill: discernimento emocional
Entender o que é expressão genuína e o que é performance exige escuta interna. A curadoria precisa de critério, não só de estética. E critério vem de dentro.
A síndrome do “conte sempre com um aprendizado”💡
Tem algo meio exaustivo acontecendo: toda experiência precisa virar insight. Perdeu o emprego? Aprendizado. Terminou um relacionamento? Crescimento pessoal. Teve burnout? Thread no Twitter com lições valiosas.
Mas e se só doer? E se só for confuso?

Quando até a vulnerabilidade precisa de branding, a espontaneidade some do mapa. A gente começa a viver para a moral da história — e não pela história em si.
Segundo a Harvard Business Review, a construção da marca pessoal se tornou uma exigência velada nas carreiras modernas. Não basta ser competente — é preciso parecer interessante o tempo todo.
Isso cria um paradoxo: quanto mais performamos autenticidade, menos espaço há para a autenticidade real. A curadoria de si, quando constante, pode gerar uma desconexão profunda com a própria identidade.
Soft skill: autenticidade prática
Ser autêntico não é contar tudo. É não distorcer o que se vive só para caber em um formato vendável.
Eu sinto que…
A vida virou um carrossel do Instagram🌀
Não importa o que acontece — importa como você apresenta. E o pior: às vezes a gente começa a confundir a apresentação com a experiência real. A gente sente menos pra parecer mais.
Sinto que isso cria uma ansiedade estranha, uma sensação de estar sempre atrasado na própria narrativa. Como se a vida estivesse em rascunho, esperando revisão.
Soft skill: autoaceitação radical
Abrir mão do aplauso, ainda que por um momento, é o caminho para viver sem plateia. E talvez, nesse espaço, a gente descubra quem é quando ninguém está olhando.
No começo é sempre difícil 🌱
Sim, vai parecer que você está se “apagando” se não postar aquela conquista. Vai parecer desinteressante se não tiver algo inteligente pra dizer num café com o time.

Mas talvez isso seja só o efeito da abstinência da validação. Desapegar da curadoria não é virar invisível — é voltar a enxergar de verdade.
Soft skill: segurança subjetiva
É confiar que, mesmo sem o filtro da performance, você ainda tem valor. Muito valor. E que nem todo dia precisa ser instagramável pra ter significado.
Like a pro
Menos palco, mais presença🎯
A curadoria de si não precisa ser abandonada — mas pode ser revista. Em vez de só mostrar o que funciona, que tal viver o que faz sentido?
Mostrar menos pode abrir espaço pra sentir mais. E sentir mais é o que cria conexão de verdade — com os outros e com você.
Soft skill: presença relacional
Estar inteiro nas interações, mesmo sem nada pra provar, é o que sustenta relações autênticas. E no fim do dia, é disso que a gente mais precisa.
Exemplos para inspirar
💻 No home office:
Pausar antes de compartilhar um update pessoal. Você está dividindo ou vendendo?
Começar o dia escrevendo um parágrafo que ninguém vai ler. Só pra você.
🏢 No presencial:
Ter conversas sem moral da história. Só escuta mesmo.
Deixar espaço pro silêncio em grupo — sem precisar preencher com piada ou produtividade.
Para encerrar
Ser publicável o tempo todo é exaustivo.
E não, isso não é um manifesto contra redes sociais. É só um lembrete: você não precisa ser interessante. Você já é inteiro. E isso, sim, é revolucionário.
Soft skill: integridade emocional
Viver com alinhamento entre o que se sente e o que se mostra é uma prática diária de coragem e lucidez.
O que achou da edição de hoje da Paradoxo?
Próxima edição: vamos falar mais de…
Conheça como a Conversa Colab tem ajudado profissionais e empresas a refletirem sobre autenticidade e presença no dia a dia e desenvolverem relações mais verdadeiras, leves e sustentáveis, dentro e fora do trabalho.
Equipe Conversa Colab




Comentários