Cada um ajuda, todos atrapalham
- Fabio Gossi
- 15 de set.
- 4 min de leitura

Você pode estar estragando tudo tentando ajudar (e nem percebeu)
Já tentou fazer a sua parte, todo empolgado, e no fim percebeu que ajudou a bagunçar ainda mais? Pois é. A intenção era boa, mas o efeito foi: caos coletivo. Essa edição é sobre decisões bem intencionadas que atrapalham todo mundo — e o pior, de forma previsível.
No dia a dia
Cena clássica: churrasco entre amigos.
Todo mundo quer garantir que não falte carne. Resultado? 18kg de picanha, 4 linguiças solitárias e o Greenpeace mandando uma notificação.
A mesma lógica se repete no trabalho: cada gestor faz “o melhor para a sua área” e o orçamento vai pro espaço. No fundo, ninguém errou sozinho. Mas juntos... erraram lindamente.
Quer ajudar? Coopera.
Na teoria dos jogos, isso se chama Dilema do Prisioneiro. Dois suspeitos são presos e interrogados separadamente. Se um delatar e o outro ficar quieto, o delator se dá bem. Se os dois ficarem quietos, os dois se safam com pena leve. Mas o medo de ser passado pra trás faz os dois delatarem — e os dois se incriminam.
No trabalho é parecido: duas pessoas ficam responsáveis por revisar um relatório. Se as duas revisam, o material sai redondo e todos ganham. Se uma revisa e a outra não, quem revisou trabalha dobrado e a outra se beneficia sem esforço. Mas, com medo de ser a única a revisar, as duas decidem não fazer — e o relatório cheio de erros acaba na mesa da diretoria. O dilema do prisioneiro explica justamente isso — quando cada um pensa só em si, o coletivo perde e o resultado final piora pra todo mundo.
Soft skill: pensamento colaborativo Nem toda escolha certa é só coletiva ou individual. Às vezes, cooperar é abrir mão do "melhor pra mim" em nome do "menos pior pra todo mundo".

Quando proteger o seu gera prejuízo geral
Você segura uma entrega porque acha que seu atraso é “só um diazinho”. Seu colega também. E o outro. Quando vê, o projeto afundou. O mesmo vale pra vaquinha, check-out de projeto, feedback... A ação individual racional nem sempre é a mais inteligente coletivamente.
Soft skill: visão de impacto Decidir pensando no todo é habilidade rara. Quem domina, lidera sem precisar mandar.
“Vamos evitar conflito, vai que dá ruim” (spoiler: dá ruim mesmo assim)
Evitar o conflito vira autocensura, e o resultado coletivo? Decisões mornas, sem ousadia. O famoso “qualquer restaurante tá bom” que termina num lugar caro e ruim. Em busca de harmonia, você corta a autenticidade. No fim, ninguém briga — mas também ninguém brilha.
Soft skill: coragem de discordar com respeito Saber dizer "eu penso diferente" sem virar antagonista é uma arte estratégica. Harmonia real se constrói com fricção honesta.
Eu sinto que…
…estamos cansados de tentar acertar sozinhos.
E cansados também de pagar pelos erros coletivos que ninguém teve coragem de evitar. Às vezes eu fico pensando se não deveríamos aprender o Dilema do Prisioneiro antes do PowerPoint. Talvez a gente entendesse que cooperação não é “ser bonzinho” — é ser inteligente.
Soft skill: responsabilidade compartilhada Assumir seu papel no coletivo não é só maturidade - é inteligência emocional a longo prazo.
No começo é sempre difícil
Você propõe uma solução integrada e te chamam de “utópico”. Você segura a ansiedade e esperam que você seja “mais proativo”. Você tenta combinar e alguém já fez por conta.
É o paradoxo da boa intenção: quanto mais você tenta agir certo, mais parece que deu errado. Mas é assim que começa o desmonte do caos.
Soft skill: resiliência estratégica Insistir no certo quando o errado parece mais fácil é jogo de longo prazo. Segue firme.
Like a Pro: boas intenções precisam de boas combinações
No fim do dia, ninguém quer sabotar o time. Mas se a regra do jogo for “cada um por si”, até os bem-intencionados viram vilões. Cooperação é uma tecnologia emocional que a gente precisa reconfigurar urgente.
Soft skill: negociação empática A boa negociação parte do princípio que ninguém precisa perder pra todo mundo ganhar.
Exemplos para inspirar (e evitar)
💻 Home Office:
Um colaborador ajusta sozinho uma entrega para “não incomodar o outro” — e o projeto sai desalinhado.
Cada pessoa marca um call extra só pra garantir alinhamento — e a semana vira um inferno de zoom.
🏢 Presencial:
Cada área solta um comunicado “pra engajar” — e o RH vira um show de horrores com cinco campanhas simultâneas.
O time evita discordar na reunião com a liderança — depois todo mundo desabafa no café.
Pra encerrar
A mente brilhante não é a que resolve tudo sozinha. É a que entende que resolver junto é mais difícil, mais lento, mais incerto — e ainda assim vale mais a pena.
Como disse John Nash (o do filme), o melhor resultado vem quando cada um faz o que é melhor pra si e pro grupo. E pra isso, a gente precisa confiar.
Soft skill: confiança ativa Confiar não é ausência de dúvida. É escolher agir em parceria apesar delas.
E aí, já sabotou o coletivo tentando acertar?
A Paradoxo de hoje te fez:
Em 1967, Rolling Stones convidaram John Lennon e Paul McCartney (dos Beatles) para cantar os vocais de We Love You. Rivais declarados, mas que escolheram somar vozes em vez de disputar palco.
É o exemplo perfeito de que colaboração não é harmonia perfeita — é gente diferente cantando junto e criando algo maior do que fariam sozinhos.
Pra quem gosta de saber mais (com o café ainda quente)
Uma Mente Brilhante – Sylvia Nasar
The Evolution of Cooperation – Robert Axelrod
Thinking, Fast and Slow – Daniel Kahneman
Groupthink – Irving Janis
Rational Fools – Amartya Sen
Conheça como a Conversa Colab tem ajudado profissionais e empresas a perceberem os impactos das decisões individuais bem intencionadas e desenvolverem práticas de cooperação, negociação empática e responsabilidade compartilhada.




Comentários